quinta-feira, 2 de abril de 2009

Juízes (21 capítulos) - 2º Livro Histórico

O livro

O nome Juízes (hebr. Shofetim) designa, no Antigo Testamento, uma série de personagens que se esforçaram em dirigir o povo e mantê-lo a salvo da hostilidade e do domínio dos seus vizinhos, de seus inimigos. Esses personagens viveram durante o período compreendido entre a morte de Josué e os anos imediatamente anteriores ao início da monarquia de Israel (séculos XIII-XI a.C.). Mais do que juizes, no sentido estrito de administradores da justiça, eram heróis que, de modo ocasional, guiaram as tribos israelitas na sua luta para permanecer nos territórios conquistados (2.16).

De fato, a raiz verbal de onde procede o substantivo hebraico traduzido por juiz possui também os significados de guia, direção e governo. É provável que a idéia de governar seja a mais original e que dela se tenha derivado a idéia de julgar, visto que o poder de julgar é uma responsabilidade inerente ao governante ou ao aparato de governo.

O livro dos Juízes (Jz) narra algumas das ações de guerra nas quais aqueles heróis lideraram uma ou mais tribos de Israel. Em situações difíceis, quando inimigos externos ameaçavam a sobrevivência do povo em Canaã, vê-se que "o SENHOR lhes suscitou libertador, que os libertou" (3.9), ou seja, os chamados "Juízes".

Embora o caráter militar desses Juízes seja evidente, o livro ressalta que todos eles atuaram como instrumentos do SENHOR, suscitados e movidos pelo seu Espírito para levar a cabo uma missão especial, em um determinado momento e por um tempo limitado. Nas proezas que realizaram, sempre se revelou o poder de Deus, que, apesar das freqüentes atitudes reprováveis dos israelitas, nunca deixou de cuidar deles com solicitude paternal e de sustentá-los para que não sucumbissem vítimas das suas vicissitudes (obras da carne, vícios, pecados, concupiscências, desejos carnais, atitudes carnais, etc.).

Na descrição dessas personagens não existe um padrão comum de identificação. Assim, Otniel, irmão de Calebe, é escolhido por Deus para iniciar o período dos juízes, vencendo Cusã-Risataim (rei da Mesopotâmia); Eúde, vence Eglom (rei dos moabitas) e Israel descansa em paz por 80 anos; Sangar, juiz de quem pouco se sabe, feriu 600 homens filisteus com uma aguilhada de bois; Débora se distingue como uma profetisa que, ao pé de uma palmeira, governa o povo e atende àqueles que solicitam a sua mediação em casos de litígio (4.4-5); Gideão é um camponês de humilde classe social (6.11); Tola e Jair, homens que também julgaram a Israel, entretanto, pouco conhecidos; Jefté, filho de uma prostituta, liderou, ao que parece, um bando de malfeitores, homens ociosos (11.1,3); depois dele Deus levantou Ibsã; depois Elom; e depois Abdom; até que oprimidos novamente pelos filisteus Deus separa Sansão, o jovem celebrado pela sua excepcional força física (1.6.3), e que não consegue resistir aos encantos de uma mulher filistéia (16,17). Ao todo foram 13 Juízes contando com o período de Samuel (Profeta e Juiz).

Conteúdo do livro

A história dos juízes no livro se reduz a uma série de narrações episódicas e desconexas. E o tratamento literário que os protagonistas (personagens principais) recebem é muito desigual, pois, enquanto a alguns poucos são dedicados vários capítulos, como Débora, Gideão, Jefté, Sansão e Mica, de outros apenas se menciona o nome, acompanhado, se muito, de uma brevíssima informação pessoal como a Otniel, Eúde, Sangar, Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom.

Ao contrário tem-se observado que os episódios registrados em Juízes se ajustam a um certo modelo redacional, em virtude do qual nos é possível perceber uma espécie de visão global da época em questão. Esse modelo, geralmente é definido como "esquema de quatro tempos", como segue:

Ø Primeiro tempo: (Fidelidade do povo) Sob a liderança de um juiz que governa ou dirige, o povo se mantém fiel ao SENHOR e vive um período de paz e prosperidade (3.11,30; 5.31; 8.28).

Ø Segundo tempo: (Infidelidade do povo) Após a morte do juiz sobrevém um período em que os israelitas "tornaram a fazer o que era mau perante o SENHOR" (4.1; 13.1), apartam-se do SENHOR e vão "após outros deuses, dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles" (2,12-13; 3.7; 10,6). É evidente nestas situações a falta de compromisso de Israel com o Senhor Deus. Apesar de tudo que o Senhor havia feito por seu povo, rapidamente os homens se inclinavam para os seus próprios desejos e cumpriam o intento de seus corações obstinados.

Ø Terceiro tempo: (Ira de Deus) A infidelidade de Israel provoca a ira do SENHOR, que entrega o povo nas mãos dos seus inimigos (2.14,20-21; 3.8; 4.2; 10.7). Por causa da infidelidade de Israel o Senhor agora está provando o povo. Um dos propósitos de Deus bem claros no livro de Juízes é o de expor os desejos ocultos de seu povo, manifestando assim, o conteúdo do coração, sua intenção e os pensamentos nele guardados.

Ø Quarto tempo: (Arrependimento de Israel) Submetidos à opressão dos seus vizinhos os israelitas lamentam haver sido infiéis ao SENHOR. Arrependidos, suplicam o seu auxílio (3.9,15; 4.3; 6.6), e Ele lhes suscita um "juiz", um libertador que os salva das suas angústias e dos seus males (2.16; 3.9, 15). Israel recupera a liberdade e vive em paz durante quarenta anos (3,11; 5,31; 8.28) como exceção, em 3.30 se lê oitenta anos. No final desse período em que o país "repousa", começa o ciclo novamente, destacando-se assim a real situação do povo israelita. Povo de dura cerviz, povo obstinado como disse o próprio Senhor Deus.